sexta-feira, 19 de maio de 2017

Cheguei na janela com passos pesados e ombros arqueados. Um braço no parapeito para me apoiar do peso do mundo que carrego nas costas. Senti o vento frio no rosto. Vi minha alma na janela em frente à minha. Ela me observava de volta, em silêncio, apenas balançou a cabeça desgostosa da figura que via. 
E eu sabia que lá vinha bronca... "o que você fez com toda a vida que te proporcionei? Você quis cuidar do mundo e não deixou ser cuidada. Teve medo dos próprios paradoxos. Covarde. Ofereceu tanto amor e não se achava digna de receber retorno... agora não o tem. Não teve coragem de olhar para si mesma para consertar os próprios abismos. Agora não sabe lidar com a dor acumulada e ignorada por tantos anos. Nas gavetas, cartas não entregues, amores não declarados, momentos desencontrados. E agora? Te resta saúde? Quanto tempo de vida? Fez o possível e o inalcançável pelos outros. E agora? Tem alguém tão perto que consiga te alcançar? Você agora está acompanhada apenas de seus monstros e pesadelos."
Dei uma olhadinha pra trás e lá estavam eles em fila organizada, esperando ansiosos pra que eu pudesse resolver tudo com cada um e mandá-los embora pra sempre. A dor de ter que vê-los ali... foi rasgante. Vou aos poucos tentando resolver as coisas com cada um... alguns monstros não vão embora... mas eles mudam de forma quando converso com eles, e vou aprendendo a conviver com cada um sem que me doa tanto. 
Comecei a me sentir mais leve pra me conhecer e ser feliz. 

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Queria ter a liberdade na ponta das asas e o teu sabor decorado na minha língua Ser domingo no seu sofá e o ar quente do café que você idola...