sexta-feira, 23 de junho de 2017

Eu era pó antes de toda aquela ventania.
Eu estava só e assim estaria.
Estava lá sem saber que aqui é meu lugar.
Antes de mudar a rota, eu tinha um esconderijo.
Fui poeira, querendo ser grão de areia; querendo ser gota e semente.
A ventania veio e eu quis espiar pra onde me levaria.
Me deixei levar.
Virei brisa até pousar
No mar
Virei imensidão...

sexta-feira, 19 de maio de 2017

Cheguei na janela com passos pesados e ombros arqueados. Um braço no parapeito para me apoiar do peso do mundo que carrego nas costas. Senti o vento frio no rosto. Vi minha alma na janela em frente à minha. Ela me observava de volta, em silêncio, apenas balançou a cabeça desgostosa da figura que via. 
E eu sabia que lá vinha bronca... "o que você fez com toda a vida que te proporcionei? Você quis cuidar do mundo e não deixou ser cuidada. Teve medo dos próprios paradoxos. Covarde. Ofereceu tanto amor e não se achava digna de receber retorno... agora não o tem. Não teve coragem de olhar para si mesma para consertar os próprios abismos. Agora não sabe lidar com a dor acumulada e ignorada por tantos anos. Nas gavetas, cartas não entregues, amores não declarados, momentos desencontrados. E agora? Te resta saúde? Quanto tempo de vida? Fez o possível e o inalcançável pelos outros. E agora? Tem alguém tão perto que consiga te alcançar? Você agora está acompanhada apenas de seus monstros e pesadelos."
Dei uma olhadinha pra trás e lá estavam eles em fila organizada, esperando ansiosos pra que eu pudesse resolver tudo com cada um e mandá-los embora pra sempre. A dor de ter que vê-los ali... foi rasgante. Vou aos poucos tentando resolver as coisas com cada um... alguns monstros não vão embora... mas eles mudam de forma quando converso com eles, e vou aprendendo a conviver com cada um sem que me doa tanto. 
Comecei a me sentir mais leve pra me conhecer e ser feliz. 

segunda-feira, 27 de março de 2017

Às vezes olho em volta e sinto que não sou igual as pessoas que vejo. Que não pertenço a esse mundo; que não tenho os mesmos desejos e ambições.
Olho em volta e me sinto tão desconfortável... e com uma preguiça enorme de interagir, de tentar fazer parte. Sinto que faço tudo programado igual a todo mundo, pra poder ter dinheiro pra morar num lugar, pra comer, etc.
Mas se eu descobrisse um lugar e uma outra maneira, eu iria correndo, sem nem olhar pra trás, sem nem sentir falta.

sábado, 4 de fevereiro de 2017

Às vezes sinto que sou o nó na sua garganta.
Cada "nós", um momento embaraçoso.
Tentando achar o fio da meada, acabei me entrelaçando na sua trama.
Quis alinhavar nossa história, mas acho que sou feita de nós e vc de seda.
Queria ser a lã que te aquece no inverno.
Mas, na linha tênue que nos separa, esbarro, enlaço, embaraço e me desfaço em traços.

sábado, 21 de janeiro de 2017

Insônia

O corpo pesado, a mente barulhenta.
Horas inquietas. O tempo incomoda.
No silêncio da escuridão, ao calar dá própria voz, o calor de pensamentos que falam com rapidez e cada vez mais alto.
Olhos abertos, tentando achar resposta no vazio escuro.
Olhos fechados, tentando ignorar as perguntas insistentes que surgem.
Um trauma, um arrependimento, um desejo, um sonho acordado, uma pendência, coisas a fazer, uma lembrança antiga, a cobrança de ter que dormir, a ansiedade.
O corpo inquieto, querendo achar repouso a cada mudança de pensamento.
Os primeiros raios de sol
O padeiro começando o dia
O som estridente do desperta-dor
Um banho rápido
Mesmo que o sorriso não seja real e espontâneo, surge o alívio de não ter que confrontar os mesmos pensamentos.
Até anoitecer novamente.

Queria ter a liberdade na ponta das asas e o teu sabor decorado na minha língua Ser domingo no seu sofá e o ar quente do café que você idola...